sexta-feira, 3 de agosto de 2012

“A sustentável leveza de ser e a alegria de contribuir”

Savanna Aires Soares
         
       Há um tempo desejava voltar a escrever por aqui, alguns pensamentos me vinham, assuntos sobre os quais talvez ainda externe, mas faltava algo mais que me salvasse da preguiça das férias e fizesse com que eu colocasse meus dedos e cabeça para trabalhar. O impulso? A retribuição. Nada de valor material, palpável, que se ganha (e pode se perder) instantaneamente, mas uma compensação singela e motivadora, vinda do rosto e das palavras de outra(s) pessoa(s).

A oportunidade de receber essa forma de gratificação foi proporcionada por um projeto em andamento, desenvolvido pela ONG Jovem Ambientalista, da qual faço parte. O trabalho está dividido em três módulos e em geral, objetiva sensibilizar crianças e jovens para o cuidado com o ambiente onde vivem, a partir de atividades lúdicas e educativas. Hoje encerramos a segunda etapa, com a participação de alguns pais, em que os foi apresentado uma síntese do trabalho realizado até o momento e de nossas propostas futuras, referentes ao módulo seguinte.

Durante a exposição dos slides, fiquei atenta aos rostos ali presentes, principalmente dos adultos, aguardando qualquer tipo de reação que pudesse revelar seus pensamentos diante do que estava sendo exposto. Uma das mães deixava transparecer com facilidade o seu envolvimento com os assuntos abordados, como se reconhecesse a importância de cada um deles no cotidiano da sua família, a exemplo de necessidades básicas para se obter qualidade de vida: higiene, amizade, alimentação saudável, esporte, entre outras.  

Uma outra mãe, por sua vez, fazia questão de manter o ar sério, atento, difícil de ser interpretado, e para adubar ainda mais a minha curiosidade, permaneceu assim até o final da exposição. Finalizada a fala do nosso grupo, abriu-se o espaço para o depoimento dos pais, que quando questionados se as atividades realizadas com as crianças e os jovens estavam refletindo em mudança de comportamento em suas casas, responderam imediatamente (embora de forma silenciosa, com a cabeça) que sim! Logo em seguida, como se adivinhasse o meu interesse, a mãe de expressão enigmática disse toda satisfeita: “Agora meu filho sempre lava as mãos antes do almoço”. (!!!!) E o sorriso tomou conta de todos...

É desse tipo de retribuição que ‘falava’ no início, que não motiva somente o compartilhamento dessas palavras, mas a continuidade do nosso projeto, de torná-lo cada vez melhor e através dele, proporcionar novas mudanças.


Que venham mais recompensas como essa, afinal, “As melhores coisas da vida não são coisas.”!


sábado, 30 de junho de 2012

São só palavras?

 Savanna Aires Soares

Condenamos a palavra, mas não vivemos sem ela.
Por mais que o silêncio fale por si
Temos a necessidade de vesti-lo com nossos sentimentos.

[Rabiscos meus]


Título inspirado na música 'Palavras Não Falam' - Mariana Aydar 



terça-feira, 24 de abril de 2012

“Um livro é a prova de que os homens são capazes de fazer magia."

Savanna Aires Soares

         Segundo o velho Google, essa frase pertence à Carl Sagan, cientista que dedicou seus estudos à Astronomia, sendo entusiasta da chamada Exobiologia, ciência que se volta para a investigação da vida fora da Terra. Não sou, nem de longe, uma profunda conhecedora das suas obras, o que me instigou a buscar informações sobre ele foi um amigo, quando me revelava a sua admiração por Sagan. Dias depois, ainda pesquisando um pouco mais, me deparei com a frase acima.
 
E é exatamente isso: um livro é capaz de fazer magia na vida das pessoas. Feitiço que pode nos lançar para a realidade de forma oculta e inimaginável.
Nesse momento, consigo ter a verdadeira consciência de dois que fizeram/fazem profunda diferença na minha, mas quero dedicar esta postagem a um deles, apenas.
O livro a que me refiro foi um presente do meu pai e veio acompanhado de outros da mesma temática, porém, com abordagens distintas. Chama-se “Alfabetização Ecológica: A educação das crianças para um mundo sustentável” (“Ecological Literacy”), escrito por Fritjof Capra e colaboradores. (Dispenso aqui os títulos e obras dos autores, acreditando ser de extrema irrelevância, pois além de tais informações estarem facilmente disponíveis na internet, não são elas que atribuem significado a este livro).
        Já pelo título fiquei empolgada, pois como havia me tornado integrante de uma ONG há poucos meses e o foco da instituição é promover a Educação Ambiental de crianças e adolescentes, enxerguei nesse livro a oportunidade de conhecer melhor a temática e assim, contribuir de maneira mais responsável com os projetos da equipe. (Um outro detalhe é que as folhas são recicladas, e como já vinha adotando o uso das mesmas no meu cotidiano, senti como se o livro fosse familiar. Hehehe).
Nas páginas do livro, reúnem-se as preciosas experiências de até então 10 anos de uma fundação localizada na Califórnia: o Centro de Eco Alfabetização, que desde 1995 realiza e apoia projetos de educação para a sustentabilidade. Os responsáveis pelos relatos são teóricos, ativistas e educadores, que por meio de suas vivências, nos orientam sobre como alcançar a tão desejada vida sustentável e, sobretudo, em que esse hábito consiste.
Até então, muito já tinha lido, escutado e até conversado a respeito da ‘sustentabilidade’ e apesar de ter conhecimento do seu propósito, sentia falta de práticas e relatos que fizessem jus ao seu verdadeiro significado. (Ações que ultrapassassem os 3R’s, entende?).  É cômodo e ao mesmo passo arriscado disseminar essas práticas que “estão em alta”, sem compreender a importância de se estabelecer outras relações, muito mais profundas e duradouras, com o espaço onde se vive.
        Logo no Prefácio, ‘Como a natureza sustenta a Teia da Vida’, Capra comenta do uso frequente do termo “SUSTENTÁVEL” e atenta: “essa definição não diz nada com respeito a como construir uma comunidade sustentável. Precisamos de uma definição operacional do que seja a sustentabilidade ecológica”. E é utilizando dos princípios básicos da Ecologia, que ele nos mostra as relações pelas quais a natureza se sustenta e o quanto podemos aprender com ela. “A educação para uma vida sustentável estimula tanto o entendimento intelectual da ecologia como cria vínculos emocionais com a natureza”.
Para minha surpresa e alegria, as primeiras páginas do livro já me aproximaram consideravelmente da famosa desconhecida Sustentabilidade, fazendo-me enxergar a sua inerência na vida do planeta. (Engraçado, de uns tempos pra cá, ela ser tão almejada, quando na verdade sempre existiu, mesmo que silenciosamente. Então, me pego fazendo algumas perguntas: Em qual tempo a ignoramos? Seria essa ignorância resultado da falta de percepção de muitos à sua existência? Interrogações pairam no ar...)
 Essa aproximação foi de grande estímulo para persistir na leitura daquelas páginas que já faziam discreto feitiço na minha forma de enxergar a vida.
Outro momento que acho bastante pertinente é quando Capra, em seu ensaio ‘Falando a linguagem da natureza: Princípios da sustentabilidade’, atenta: "não existe nenhum currículo de sustentabilidade do tipo “tamanho único que sirva para todos”’. Ele expressa esse pensamento ao abordar um dos princípios da Ecologia: a diversidade.  Trazendo este conceito para a realidade humana, são inúmeras as possibilidades de relações com as quais nos deparamos e também estabelecemos durante nossa vida, cada qual com suas particularidades. E essa diversidade jamais deve ser ignorada, sobretudo quando se pretende elaborar um projeto, seja ele em qual área for.
 Para se definir o plano de ação de qualquer trabalho é indispensável conhecer a realidade do ambiente onde será executado, para que seja possível atender ao máximo às reais necessidades do grupo alvo. E talvez, ainda mais importante que isso, é ter em mente que o plano traçado está susceptível a vários ajustes ao longo de seu desenvolvimento. E não tem outro caminho a seguir quando se deseja colher frutos duradouros.
Ao passo que escrevo essas linhas, recordo-me de tantos outros momentos significativos do livro, que não se restringem somente à pratica educacional em si, embora também auxiliem nesse campo. Mas a verdade é que não posso concluir esse texto sem antes dividir a magia de um capítulo especialíssimo, que talvez tenha sido o de maior importância para reanimar a minha consciência cidadã.
O ensaio é escrito por David W. Orr, um dos diretores do Centro desde a sua fundação,  e recebe o título de 'Lugar e pedagogia’. A vontade inicial é de transcrevê-lo, linha por linha, pois cada uma delas abriga ensinamentos e reflexões que talvez não estejam presentes em nenhum outro livro. Mas, vai que algum(a) curioso(a) seja enfeitiçado(a) e deseje um dia compartilhar dessa mesma leitura, né? Melhor deixá-lo reservado!
Os primeiros parágrafos do texto são dedicados à íntima relação entre o Homem Thoreau e o Lago Walden, tema de uma obra publicada primeiramente no ano de 1854 com o título Walden ou A vida nos bosques. Alimentado pela busca da essência da vida, Thoreau instala-se à beira de um lago, que não seria somente mais um elemento da paisagem, mas o lugar onde Thoreau fincou suas raízes para vivenciar as mais orgânicas e inesperadas experiências. Como David relata: “Thoreau viveu o tema de seu livro. ‘Walden’ é mais do que um diário sobre o que ele pensava; é um registro do que ele fazia e das experiências que tinha”. E ainda: "Em última instância, o objeto de estudo de Thoreau era o próprio Thoreau; tendo como propósito a sua integridade; como meio, o Lago Walden; e como metodologia, a simplificação.” (Fantástica essa definição!).
A partir desta referência e de outras que são abordadas no ensaio, Orr atenta para o lugar como importante instrumento educacional, uma vez que possibilita a integração das mais diversas áreas do conhecimento e estimula a prática e articulação desses saberes. No ensaio seguinte, inclusive, Orr expõe: “As coisas mais profundamente arraigadas em nós são formadas pela combinação da experiência de fazer com a prática da reflexão e da articulação”, citação esta até já utilizada por mim nesse blog, quando registro a minha experiência como voluntária no Projeto Tartarugas Urbanas (PTU).
Mais importante até que possibilitar a conexão dos mais variados saberes, o estudo do lugar de onde vivemos é essencial para nos transpor do posto de um tímido observador daquele espaço para o de um indivíduo enraizado, integrado com as condições oferecidas e preocupado em preservá-lo. “A nossa vida é vivida em meio a expressões arquitetônicas de deslocamento: os centros comerciais, prédios de apartamentos, luzes de neón, autopistas, torres de vidro e desenvolvimento homogeinizado – nenhum dos quais ajuda a fortalecer o sentimento de enraizamento, de responsabilidade e pertencimento.” (grifos meus).
Como já externei em linhas acima, o ensaio de David é repleto de passagens reflexivas, que nos levam a reavaliar a nossa posição diante do lugar onde vivemos. Antes da leitura desse ensaio, eu já era sim uma pessoa preocupada em manter o bem estar do ambiente em que moro, não limitado apenas à minha casa, rua ou bairro, mas de todos pelos quais passava. E não era à toa que atitudes de alguns indivíduos já me causavam indignação, por expressarem enorme desrespeito ao lugar onde se encontravam. Mas, sabe quando se é vítima da tal ‘injeção de realidade’? Foi isso. Orr me fez enxergar profundamente a importância de se entregar ao lugar que se habita (diferente de ‘residir’, como ele mesmo coloca em outro momento: “O residente é um ocupante temporário, que finca poucas raízes e investe pouco, conhece pouco e talvez só se importe com o lugar na medida da sua capacidade de lhe oferecer gratificação imediata.”).
 Acredito que o entendimento e a valorização do Lugar são cruciais para despertar nas pessoas o verdadeiro sentido de preservação, e é este sentimento que impulsiona o respeito e a busca da integridade de muitos outros ambientes, até mesmo daqueles pelos quais você nunca tenha passado. Hoje, sinto meus poros muito mais abertos à aprendizagem do lugar, do que ele pode me revelar e, sobretudo, do que eu posso fazer em prol de seu resguardo.
(Já escrevi muito!!!!). Mas acreditem, há muito mais o que registrar e discutir, não apenas sobre este maravilhoso ensaio de David, mas dos muitos relatos presentes em todo este livro, que tanto ampliou meus horizontes, ajudando-me a enxergar as mínimas e não menos importantes aprendizagens que a vida pode nos proporcionar. Despeço-me desejando a você, leitor, a oportunidade de ser enfeitiçado por livros mágicos e que estes sejam fonte de inspiração para a sua caminhada.

 “A mera esperteza é muito superestimada e não é, como em geral se acredita, um sinônimo perfeito de inteligência. Mas a generosidade é uma espécie de inteligência a longo prazo.”  (David W. Orr)






segunda-feira, 9 de abril de 2012

Você sabe ler?

Savanna Aires Soares

É natural que a pergunta cause certo estranhamento, eu mesma ficaria intrigada (e ao mesmo tempo curiosa) se me deparasse com tal indagação, afinal, o ato de ler, em primeira instância, consiste em distinguir e reunir letras para a compreensão de palavras e, consequentemente de textos como esse. Tarefa corriqueira para mim e provavelmente também para você.

No entanto, não é no sentido puramente mecânico que venho escrever sobre leitura, mas sim, tratá-la como um processo mais perceptivo, capaz de envolver todos os nossos sentidos.

A inspiração para escrever essas breves linhas partiu de uma aula de Geologia, quando o professor atentava para a importância de uma ‘simples’ rocha no conhecimento de um determinado ambiente (possível tempo de surgimento, condições em que este meio se encontrava, como se transformou, etc) e o mesmo pronunciou a seguinte frase:

"As rochas falam[...]É preciso aprender a ler a natureza".
            
Foto: Kalina Aires Soares
Fiquei encantada com o tom poético que aquelas palavras carregavam e como elas podiam nos despertar para a realidade de forma tão sutil...(essa é uma das belezas da poesia!).
            
Imediatamente, fui transportada para a reflexão de como seria essa prática de leitura e decidi traduzir meus embaralhados pensamentos em palavras.
            
Ler a natureza transcende o sentido de ‘olhar’, já que muitas vezes olhamos para algo/alguém, mas não o enxergamos. O diferencial de ‘enxergar’ reside na disposição de conhecer, descobrir o desconhecido, condição esta fundamental para que estejamos verdadeiramente entregues a uma leitura.
            
Ler a natureza significa senti-la em suas particularidades, seja com os olhos, o toque, cheiro, sabor, som, ou com tudo isso junto. O que não falta é espaço para a sinestesia.

Ler a natureza consiste em desvendar suas entrelinhas e compreender seus limites.

Se colocamos essa leitura em prática, nossa relação com a natureza tende a se tornar cada vez mais real e respeitosa.
            
Não afirmo que é fácil. Trata-se de um exercício que dispensa superficialidades. Algumas pessoas parecem já ter nascido alfabetizadas, outras demonstram ignorar esse tipo de leitura, e existem aquelas que se dispõem a tornar tal prática cada vez mais presente em suas atividades diárias.

Eu confesso, estou aprendendo a ler.



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Do rastro ao mar: o caminho da preservação de tartarugas marinhas no litoral paraibano

Savanna Aires Soares

        Enquanto a grande façanha dos últimos tempos é se apropriar do ‘verde’ para intitular ações supostamente sustentáveis e ecologicamente corretas, a cor que vem fazendo importante diferença em Cabedelo e na grande João Pessoa é outra.

De fácil reconhecimento, o laranja vibrante que colore o uniforme da equipe do Projeto Tartarugas Urbanas pode ser visto todos os dias, logo cedinho, entre as praias do Bessa (João Pessoa) e Intermares (município de Cabedelo). O propósito da caminhada é reconhecer na areia o que para muitos passa despercebido: o rastro de uma tartaruga marinha. Isso, porque além de ser uma opção de lazer e descanso, o litoral paraibano é também o ambiente onde esse animal desova.
Rastro de uma tartaruga marinha adulta

O rastro, deixado pela fêmea da tartaruga marinha, é sinal de que durante a noite, ela subiu até a praia e procurou o local mais seguro para realizar a postura de seus ovos, que dependendo das condições pode até adentrar a vegetação. Reconhecido o rastro, a equipe se encarrega de localizar onde os ovos foram colocados, tarefa esta orientada pela desordem na areia feita pela tartaruga ao término da desova. Cumprida mais esta etapa, chega o momento de proteger o ninho. Usando estacas de madeira, tela, barbante e uma placa de identificação, mais de 100 vidas são protegidas.
Um outro tipo de procedimento ainda pode ser feito a fim de garantir a segurança dos futuros filhotes: a transposição do ninho, quando este encontra-se em um local de risco, susceptível a ação da maré ou deslizamento de areia. Trata-se de uma tarefa bastante delicada que exige, ao mesmo tempo, cautela e agilidade, uma vez que os mais de 100 ovos devem sofrer o mínimo de exposição à luz solar.
Ninho protegido. Na placa de identificação,
registra-se o número do ninho da temporada
e a data na qual os ovos foram encontrados.
A proteção não só garante um desenvolvimento embrionário seguro, como também é fundamental para o controle do número de ninhos e do possível dia em que os filhotes estarão aptos a seguirem para o mar.
O tempo de incubação varia entre 50 a 60 dias após a desova. No momento em que os filhotes já se desenvolveram e estão em frenética atividade para abandonarem a escuridão do ninho, outra intervenção ocorre: a ‘cesariana de areia’. Esta técnica consiste em antecipar algumas horas a saída das pequeninas tartarugas à superfície e foi adotada pela equipe com o objetivo de contornar uma das problemáticas que ameaçam a vida desses animais: a urbanização de regiões costeiras, fator este que explica a denominação ‘Projeto Tartarugas Urbanas’ (PTU).
Ambientes urbanizados apresentam elevada incidência de iluminação artificial, advinda de postes, casas, edifícios, estabelecimentos comerciais, e é este tipo de fonte de luz que pode afetar as tartarugas marinhas em dois momentos. O primeiro está relacionado à desova, uma vez que as fêmeas sobem à praia durante a noite, para evitar predadores e desidratação. Desse modo, um ambiente severamente iluminado pode afugentar esses animais, que se não encontrarem segurança na areia da praia, poderão desovar no mar, onde o desenvolvimento embrionário torna-se inviável.
Outra etapa do ciclo de vida das tartarugas marinhas afetada pela chamada fotopoluição é a caminhada dos filhotes em direção ao mar. A saída destes à superfície também ocorre no período da noite, estimulada pelo resfriamento da areia. Após emergirem do ninho, os mais de 100 filhotes são guiados pelo brilho do horizonte, naturalmente criado pelo reflexo da lua e das estrelas no mar. No entanto, quando o litoral sofre elevada incidência de iluminação artificial, como acontece nas praias paraibanas, os filhotes ficam desorientados e caminham na direção oposta, atraídos pela luz urbana. Ao realizarem tal percurso, esses pequenos e frágeis animais são expostos a sérios riscos, como ação de predadores, morte por atropelamento e até desidratação.
A ‘cesariana de areia’ é realizada pontualmente às 15:30, horário em que a luz artificial ainda não incide sobre a praia. Neste procedimento, voluntários do projeto são responsáveis por cavar o ninho e retirar os filhotes, que já se encontram muito próximos à superfície. Ao passo que isso ocorre, o público presente também assiste a uma breve palestra ministrada pela bióloga e coordenadora do projeto, Rita Mascarenhas, na qual são transmitidas informações acerca do ciclo de vida das tartarugas marinhas, sua importância para a manutenção do equilíbrio ecológico e de atitudes que contribuem para a preservação desses animais e da natureza como um todo. Concluído o procedimento de retirada dos filhotes, chega a etapa mais esperada por todos: a soltura dos pequenos animais para o mar. Estar presente neste momento significa testemunhar o desfile de centenas de vidas rumo à sobrevivência.  
No recinto de reabilitação, cuidando de uma tartaruga
verde (Chelonia mydas) que encalhou na praia.
              Além do trabalho de proteção dos ninhos, a equipe do PTU também atua na reabilitação das tartarugas marinhas que encalham ainda com vida na praia. Quando encontrado, seja pelos próprios voluntários do projeto ou pela população que freqüenta as praias, o animal é encaminhado a um recinto, onde recebe os devidos cuidados. 

O Projeto Tartarugas Urbanas faz parte dos trabalhos promovidos pela Associação Guajiru – Ciência, Educação e Meio Ambiente, que desde 2002 vem se envolvendo não só com a preservação das tartarugas marinhas, mas também com ações de incentivo à leitura e ao esporte.
Meu primeiro contato com o projeto se deu em abril de 2010, quando visitei a sede da Associação, localizada no Bar do Surfista (Praia de Intermares) e tive uma breve conversa com Seu Valdi, dono do bar, e Rita Mascarenhas, já mencionada anteriormente. A partir daí, motivada pelo desejo de participar efetivamente das atividades da equipe, no final de 2011 fiz a inscrição para o estágio voluntário e fui selecionada.
Durante 30 dias tive a oportunidade de vivenciar cada momento abordado nesse texto e assim, pude reiterar a importância da atuação do Projeto Tartarugas Urbanas no litoral paraibano. O mais interessante é que não precisei ouvir termos como ‘verde’ e a tão proferida ‘sustentabilidade’ para me certificar disso, simplesmente porque os trabalhos diários, o contato com a realidade do projeto e, sobretudo, com o ambiente onde ele atua, já se encarregam naturalmente de afirmar a consciência ecológica de todos os envolvidos. 
Filhotes de tartaruga após a 'cesariana de areia', na praia de Intermares

“As coisas mais profundamente arraigadas em nós são formadas pela combinação da experiência de fazer com a prática da reflexão e da articulação.”
(David W. Orr, no livro ‘Alfabetização Ecológica: A educação das crianças para um mundo sustentável’)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ContemplaCão


                                            Foto: Levy Soares

Sábado, carnaval já rolando no Rio de Janeiro, blocos na rua, agitação, trânsito confuso, saio do cinema no Leblon, e me deparo com a cena que registrei na foto ao lado. 

Confesso que tive vontade de chegar calmamente e colocar minhas patas superiores na mesma posição e curtir aquela serenidade junto com o contemplativo cão.

Ficaria em silêncio por um tempo, tentando decifrar o que o “pelo-quase-pelúcia” estava a mirar, mas eu perderia o prazer da contemplação e entraria no campo da fria investigação ou bisbilhotice.

Pensei puxar conversa. E aí, não vai cair na folia também ? Como está sua doce vida de cachorro ? Tá só olhando ou vai mergulhar ? Talvez ele entendesse meus grunhidos e tivesse a gentileza de responder a perguntas babacas, dessas que ouvimos/vemos todos os dias na tv. Mas, para que ferir aquele silêncio tão eloquente ?

Depois do clic para não perder a magia do instante, ainda fui tentado a dar um toquinho no ombro do rapaz e perguntar o seu nome. E a raça. Quem sabe, quantos anos tinha. Quem era o dono. Onde morava. Tem pedigree ? Ah... tem  twitter, facebook, celular ?

Confuso e fascinado, meti o rabo entre as pernas e saí de fininho.  Esqueci de pedir autorização para publicar a foto. Papparazzi é fogo! Não perdoa a privacidade de ninguém. 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Lei da Sobrevivência fala mais alto

 Luanda, fevereiro 2012   Foto: Levy Soares

domingo, 15 de janeiro de 2012

Dá certo sem respirar ?

A revista Exame, edição especial número 1000 - "O Mundo em Transformação" -, na reportagem Procura-se Gente, traz inúmeras páginas sobre a "Ascensão da China". O primeiro parágrafo, no entanto, é de tirar o fôlego de qualquer um. Vejam que pérolas nota 1000, com grifos nossos:


"Com 4 milhões de habitantes e mais de 20.000 fábricas, Shaoxing tem todas as características típicas de uma cidade chinesa que deu certo. O ar beira o irrespirável. O trem-bala que percorre os 160 quilômetros que separam Shaoxing de Xangai está sempre lotado. E o trânsito é enlouquecedor. (...) Quem tem mais de 30 anos ainda se lembra dos dias em que Shaoxing tinha o céu azul. (...) A receita não poderia ter sido mais chinesa: custos de produção ínfimos, trabalhadores dispostos a passar 14 horas por dia na linha de produção ganhando um salário miserável (...)"


A reportagem aborda também outras consequências desse modelo que "deu certo", mas que "não está funcionando mais".  "Os tempos de sucesso fácil estão ficando para trás".


Que sucesso!


Isso é dar certo ? Isso é sucesso ? Se é assim, o homo sapiens merece tal classificação ?