Savanna Aires Soares
É natural que a pergunta cause certo estranhamento, eu mesma
ficaria intrigada (e ao mesmo tempo curiosa) se me deparasse com tal indagação,
afinal, o ato de ler, em primeira instância, consiste em distinguir e reunir
letras para a compreensão de palavras e, consequentemente de textos como esse. Tarefa
corriqueira para mim e provavelmente também para você.
No entanto,
não é no sentido puramente mecânico que venho escrever sobre leitura, mas sim, tratá-la
como um processo mais perceptivo, capaz de envolver todos os nossos sentidos.
A inspiração para escrever essas
breves linhas partiu de uma aula de Geologia, quando o professor atentava para
a importância de uma ‘simples’ rocha no conhecimento de um determinado ambiente
(possível tempo de surgimento, condições em que este meio se encontrava, como
se transformou, etc) e o mesmo pronunciou a seguinte frase:
"As rochas falam[...]É preciso
aprender a ler a natureza".
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Foto: Kalina Aires Soares |
Fiquei
encantada com o tom poético que aquelas palavras carregavam e como elas podiam
nos despertar para a realidade de forma tão sutil...(essa é uma das belezas da
poesia!).
Imediatamente,
fui transportada para a reflexão de como seria essa prática de leitura e decidi
traduzir meus embaralhados pensamentos em palavras.
Ler a
natureza transcende o sentido de ‘olhar’, já que muitas vezes olhamos para
algo/alguém, mas não o enxergamos. O diferencial de ‘enxergar’ reside na
disposição de conhecer, descobrir o desconhecido, condição esta fundamental
para que estejamos verdadeiramente entregues a uma leitura.
Ler a
natureza significa senti-la em suas particularidades, seja com os olhos, o
toque, cheiro, sabor, som, ou com tudo isso junto. O que não falta é espaço
para a sinestesia.
Ler a
natureza consiste em desvendar suas entrelinhas e compreender seus limites.
Se colocamos
essa leitura em prática, nossa relação com a natureza tende a se tornar cada
vez mais real e respeitosa.
Não afirmo que
é fácil. Trata-se de um exercício que dispensa superficialidades. Algumas
pessoas parecem já ter nascido alfabetizadas, outras demonstram ignorar esse
tipo de leitura, e existem aquelas que se dispõem a tornar tal prática cada vez
mais presente em suas atividades diárias.
Eu confesso, estou aprendendo a ler.
4 comentários:
Comentário muito relevante especialmente na área da história e o estudo da ideia de Documento enquanto Monumento; uma herança histórica carregada de significados que a primeira vista não são perceptíveis. Nesta mesma linha eu lanço as palavras do Jacuques Le Goff:
"nosso trabalho de historiadores, não consistirá num esforço constante de fazer falar as coisas mudas [?]"
Mas as vezes me pergunto até que ponto as ciências não retiraram o teor de "sacralidade" do mundo natural (existência) especialmente por causa de toda a compreensão e develamento do que seria de fato o mundo natural.
Parabéns, Savanna! Continue suas leituras da Vida. E nos presenteie com as suas interpretações.
Levy Soares de Lima
Obrigada, papai! Que eu continue me deparando com pessoas inspiradoras como este professor!
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