segunda-feira, 9 de abril de 2012

Você sabe ler?

Savanna Aires Soares

É natural que a pergunta cause certo estranhamento, eu mesma ficaria intrigada (e ao mesmo tempo curiosa) se me deparasse com tal indagação, afinal, o ato de ler, em primeira instância, consiste em distinguir e reunir letras para a compreensão de palavras e, consequentemente de textos como esse. Tarefa corriqueira para mim e provavelmente também para você.

No entanto, não é no sentido puramente mecânico que venho escrever sobre leitura, mas sim, tratá-la como um processo mais perceptivo, capaz de envolver todos os nossos sentidos.

A inspiração para escrever essas breves linhas partiu de uma aula de Geologia, quando o professor atentava para a importância de uma ‘simples’ rocha no conhecimento de um determinado ambiente (possível tempo de surgimento, condições em que este meio se encontrava, como se transformou, etc) e o mesmo pronunciou a seguinte frase:

"As rochas falam[...]É preciso aprender a ler a natureza".
            
Foto: Kalina Aires Soares
Fiquei encantada com o tom poético que aquelas palavras carregavam e como elas podiam nos despertar para a realidade de forma tão sutil...(essa é uma das belezas da poesia!).
            
Imediatamente, fui transportada para a reflexão de como seria essa prática de leitura e decidi traduzir meus embaralhados pensamentos em palavras.
            
Ler a natureza transcende o sentido de ‘olhar’, já que muitas vezes olhamos para algo/alguém, mas não o enxergamos. O diferencial de ‘enxergar’ reside na disposição de conhecer, descobrir o desconhecido, condição esta fundamental para que estejamos verdadeiramente entregues a uma leitura.
            
Ler a natureza significa senti-la em suas particularidades, seja com os olhos, o toque, cheiro, sabor, som, ou com tudo isso junto. O que não falta é espaço para a sinestesia.

Ler a natureza consiste em desvendar suas entrelinhas e compreender seus limites.

Se colocamos essa leitura em prática, nossa relação com a natureza tende a se tornar cada vez mais real e respeitosa.
            
Não afirmo que é fácil. Trata-se de um exercício que dispensa superficialidades. Algumas pessoas parecem já ter nascido alfabetizadas, outras demonstram ignorar esse tipo de leitura, e existem aquelas que se dispõem a tornar tal prática cada vez mais presente em suas atividades diárias.

Eu confesso, estou aprendendo a ler.



4 comentários:

Gael - Thiago Gomes da silva disse...

Comentário muito relevante especialmente na área da história e o estudo da ideia de Documento enquanto Monumento; uma herança histórica carregada de significados que a primeira vista não são perceptíveis. Nesta mesma linha eu lanço as palavras do Jacuques Le Goff:

"nosso trabalho de historiadores, não consistirá num esforço constante de fazer falar as coisas mudas [?]"

Mas as vezes me pergunto até que ponto as ciências não retiraram o teor de "sacralidade" do mundo natural (existência) especialmente por causa de toda a compreensão e develamento do que seria de fato o mundo natural.

Levy Soares de Lima disse...

Parabéns, Savanna! Continue suas leituras da Vida. E nos presenteie com as suas interpretações.
Levy Soares de Lima

Savanna Aires Soares disse...

Obrigada, papai! Que eu continue me deparando com pessoas inspiradoras como este professor!

Savanna Aires Soares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.