sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Sobre a simplicidade e sua sofisticação [Dos temas que não amargam seu café]

Savanna Aires Soares

        Primeira postagem de 2013! O anseio de escrever me acompanha desde o final do ano passado, mas só agora a inspiração decidiu voltar de suas férias prolongadas! Engraçado que os escritos nada tem a ver com os pensamentos embaralhados de dias atrás, quando estes clamavam por uma organização em forma de texto. [Vai ver eles ainda precisem amadurecer ou de tão significativos não caibam em palavras].

O que me trouxe aqui foi um filme, o primeiro do ano: Coco Antes de Chanel [2009]. Nele, é retratado parte da vida da francesa Gabrielle Chanel, apelidada de ‘Coco’ pelo seu pai e  que mais tarde viria a se tornar uma reconhecida estilista, fundando a famosa marca ‘Chanel’.

A escolha da protagonista, Audrey Tautou, já foi de grande peso pra despertar meu interesse em assistir ao filme, por ser uma atriz diferenciada de todas que já vi.  Sua aura é simples e elegante, o que faz de sua interpretação única. E são esses mesmos elementos,  simplicidade e elegância [com o adicional do conforto], os mais valorizados pela estilista francesa.

Enquanto as mulheres de sua época desfilavam com adornos glamourosos e roupas sufocantes, a fim de exibir uma ‘confortável’ posição social, Coco não abdicou do estilo despojado de suas roupas frouxas no corpo, confeccionadas a partir de peças masculinas. A preocupação das damas em manter o status sob a forma de suas vestimentas ornamentais torna-se evidente quando  Coco as empresta seus modelos e as mesmas os recusam, alegando serem muito simples, sem jóias, plumas, ou qualquer outro indício de riqueza.

Tal futilidade, ainda persistente nos dias de hoje, me lembrou algumas passagens grifadas por mim do livro ‘Walden’, em que o filósofo Thoreau critica o valor distorcido da ‘Roupa’ para a sociedade:

“Os reis e as rainhas que usam uma roupa apenas uma vez mais parecem aqueles mancebos de madeira onde penduramos a roupa limpa.”(pg. 33)

“Os homens geralmente se preocupam mais em ter roupas elegantes ou pelo menos asseadas e sem remendos, do que ter uma consciência limpa.” (pg. 34)

[...!]

         Uma cena fantástica do filme é a que Coco está lendo um livro, com os cabelos naturalmente soltos, usando um vestido longo, como uma espécie de camisola, e o homem que a encontrara há poucos minutos diz: ‘Você é elegante.’

 [Onde estavam as jóias, as plumas, as vestimentas justíssimas? E os penteados mirabolantes?]

       É admirável quando alguém reconhece beleza na simplicidade, na cara limpa, nas roupas sem etiqueta, nos gestos espontâneos, às vezes até abstratos. Por isso que filmes como esse, atrizes como Audrey Tautou e filósofos como Thoreau tanto me inspiram e instigam a enxergar e valorizar o essencial de nossas vidas.